sábado, 4 de julho de 2009

O Pintor.

Aí estava ele com o seu cigarro aceso, a pintar a sua amada. Um rosto inconfundível. Sempre
a sua amada. E, diante dos seus olhos, o quadro que ele pintava em tons de azul de veludo,
cor por ele eleita quando pintava com paixão. Iria ser o último quadro que pintaria antes da
sua morte, mas ele não o sabia.
Pintor, porque pintas com paixão? Porque és louco pelo azul?
Pintor, porquê escolheste esta vida de louco?
Pintor, fica apenas com a tua amada e vive com moderação.
Não, antes morrer do que viver a vida como todos o fazem. Antes ter a loucura como
companheira do que ter a moral dos outros. Meu amor perdoa-me, mas nada consigo fazer
para tirar uma vírgula da minha história. Eu sei que te apaixonaste por mim, mas esquecestete
do pintor, e este é louco, louco pelo azul na tela, louco pelo calor do teu corpo.
Eu sei, eu não quero perceber a vida, eu quero simplesmente que a vida me perceba, mas
como, se eu sou louco?
Estou a morrer, não olhes para este rosto, minha amada. Não foi com ele que te seduzi. Não
deixes que ninguém me veja com este rosto de moribundo. Eu quero que o mundo fique
com a imagem do pintor louco e não do pintor que está a morrer fruto da sua loucura.
Não, não aceito que queiras vir comigo. Este lugar para onde eu vou só me pertence e tu
tens muito que fazer antes de partir para sempre. Não queiras vir comigo, pois não posso
consentir essa desgraça. Que merda este nosso amor. Como pudemos permitir que este
sentimento nos levasse à loucura? Aceita a minha morte e vai-te embora. Não invoques essa
palavra maldita. Foi ela que nos deixou assim e para isso já basta a minha loucura pelo azul
na tela quando te pinto, meu amor. Sem ti não posso quase respirar.
O que é o amor?
Já alguma vez sentiram o amor intenso por alguém?
Um amor intenso que corta como uma faca afiada e sem deixar marca na carne?
O amor que vos levou à condenação eterna?
Eu já senti, e por isso vou agora arder no inferno para sempre.