sábado, 4 de julho de 2009

A primeira vez que te vi.

Quando eu te vi pela primeira vez e tive o azar de olhar para os teus olhos, senti a intensidade
da luz das estrelas, da lua e do sol a entrarem dentro de mim naquela noite escura junto da
praia, quando estavas a olhar para as estrelas.
Assim que retirei o meu olhar do teu rosto, fiquei a ver a tua face por tudo o que era sítio,
projectada naquele mar negro e em todo o universo. Foi algo que nunca irei esquecer.
Mesmo hoje, quando fecho os meus olhos, ainda sinto o clarão do teu olhar.
Como foi isso acontecer comigo? Não podia acontecer, especialmente quando tenho e sou
tudo, mas contigo vi que as mulheres foram de facto a melhor criação que até hoje fiz. Sintome
como um deserto que despertou de um sonho e julga que ainda é o fundo do mar que
há muito deixou de existir por meu castigo.
Hoje limito-me a desenhar o teu rosto. Nunca mais o vou esquecer, nas dunas de todos os
desertos que um dia criei. Desenho o teu rosto, como prova do meu amor por ti, e quando o
vento tenta apagar, quando isso acontece, desenho-te no céu nas noites de Verão.
Sou e tenho tudo o que existe e, se te criei, também posso criar o teu rosto com estrelas e
astros.
Quando passarem alguns segundos para mim, mas muitos anos sobre ti, aí virás ter comigo
a este sumptuoso altar que é o universo. Nesse preciso momento irás admirar a obra que fiz
só para ti e por onde tu passaste.

Dá-me as palavras.

Dá-me as palavras para não dizer nada quando estou à tua frente, tu que nada me dizes.
Apenas tenho vontade de te amar mas, depois, nada quero sentir, nada sinto por ti.
Dá-me as palavras para te dizer tudo, tudo o que sinto por ti quando estou a fazer
amor contigo mas, depois, quero estar longe de ti, tão longe que não possa sentir o
teu cheiro.
Tenho vontade de te mandar à merda, mas não consigo. Sou eu que sou uma merda
de homem sem coragem para te dizer o quanto te desejo, mas facilmente me escondo
na minha cobardia de criança. Infantilidade a minha de achar que te amo, quando na
realidade o que eu quero é apenas o teu corpo a tocar no meu como se de um objecto se
tratasse, isso é o que pretendo. Pretendo tratar-te como se fosses um objecto delicado
e, quando acabasse de brincar com esse objecto – tu – nada dirias por ter terminado.
Sairia logo depois de o (te) arrumar na prateleira e só da próxima vez, fosse quando
fosse, voltaria a lhe (te) pegar. Porquê que é não fazes o mesmo, utiliza-me quando
quiseres e depois manda-me à merda.
Dá-me as palavras para te dizer isto, agora quando estamos os dois aqui deitados a
fazer amor.

A dedicatória.

Poderia escrever uma dedicatória, talvez esse fosse o objectivo, mas como gosto de projectar
diferentes realidades resolvi escrever uma história sobre ti.
Pode ser verdadeira ou apenas fruto da minha imaginação, mas numa coisa podes crer,
é como se de uma tela tratasse, com o teu rosto imbuído em tons de azul. Como não fui
abençoado pelo dom do desenho, fiquei pelo conto. Só espero que gostes dos diferentes
tons de azul. Contudo, o teu rosto em perfil encontra-se desenhado, basta ler com alguma
atenção.
A única maneira de eu saber que um dia irás receber esta dedicatória em forma de tela
escrita com o teu rosto é coloca-la numa garrafa de cerâmica cozida nos fornos de Saturno e
jogá-la ao mar. O mesmo mar que circunda a ilha onde tu nasceste e da qual um dia partiste,
sem partilhares a dor da despedida com alguém.
Talvez um dia a queiras abrir quando a encontrares. Até lá deixa-me sentir saudades tuas.
Se também sentires saudades minhas, volta a tapar e devolve novamente ao mar.
Certamente que um pescador a irá recolher nas suas redes de pesca e irá criar uma nova
deusa com o teu nome. Todos irão desconhecer o significado desse estranho nome excepto
eu, que o criei só para ti.

Palavras

Como é divinal o poder das palavras. Estas têm a solução para tudo. No entanto, o homem
pouco ou nada lhes dá importância.
Com elas podemos dizer tudo, expressar a nossa raiva, ira até. Podemos expressar compaixão
ao próximo e, porque não, demonstrar os nossos mais intensos e profundos sentimentos?
No entanto a realidade é outra. Utilizamos a forma mais banal e superficial, este poder que
é só nosso.
Eu gostaria de ter esse dom de dizer tudo o que penso por palavras em qualquer momento,
fosse qual fosse a circunstância ou estado de espirito. Mas vedaram-me esse poder, talvez
por ser viciado nas palavras ou porque escrevo o que não sinto.
Gostava de escrever da mesma forma quando, com toda a naturalidade, o sentimento por
uma mulher bonita nos obriga a utilizar palavras que a façam sentir-se desejada e, porque
não, amada, mesmo que tal não aconteça.
Amor, sedução, encanto,
Olhar, ternura, beijo, desejo,
Boca, toque, sabor, liberdade, vontade,
Alma, saudade, eternidade, sensação, ansiedade, imaginação,
Ódio, ciúme, morte, insubstituível,
Lua, areia, pedra, ilha, palmeira, frio,
Sol, vida, mar, terra, paraíso, quente,
Terror, solidão, deserto, inferno, e fim.
São estas as palavras para descrever não o amor que sinto pelas mesmas, mas a paixão que
tenho quando as escrevo.

A terapeuta da fala.

Ela tinha um sorriso brilhante. Uma face selvagem mas dócil para quem a conhecia. Ela é
jovem, ama o mar como nenhuma outra mulher. Numa manhã, ao acordar naquele quarto
com janela para o mar, sussurrou ao vento que gostava de viver livre para sempre como os
golfinhos que habitam as águas do oceano profundo e azul.
Ela nasceu numa ilha no meio do Oceano Atlântico, daí a sua paixão pelo mar. Mas não
julguem que não gosta da terra onde nasceu. Contudo, ela sabe que não pertence a lugar
nenhum. É independente e possui uma liberdade interior que faz os outros se sentirem
prisioneiros a preconceitos e a juízos de valores preconcebidos pela sociedade. Ela, por sua
vez, apenas sente uma única prisão: a sua ligação eterna ao mar profundo e azul da sua ilha
amada que a viu nascer.
Certo dia veio para o continente estudar. Quer ser terapeuta da fala. Sente o chamamento
interior em ajudar os que têm dificuldade em comunicar. Curioso esse sentimento para
quem é tão reservada. No entanto não existe qualquer contradição, pois dentro de água
liberta-se junto dos animais de grande porte (como cachalotes, golfinhos e até baleias)... é
nesse mundo que gosta de viver e comunicar, mas sabe que é humana e necessita de ajudar
os outros que não possuem esse privilégio.
Certo dia conheceu um pequeno rapazinho que possuía uma ligeira dificuldade em dizer
os “R´s” e isso a tocou da forma mais profunda que possam imaginar, pois queria que esse
pequeno e tenro menino um dia crescesse e conseguisse admirar o mar tal como ela o faz. A
sua tese consiste na tradução das coisas que mais gostamos e admiramos em palavras, sendo
essa a forma de nos mostrarmos ao mundo como somos e aquilo em que acreditamos.
Neste momento ela terminou o seu curso e licenciou-se. Hoje é terapeuta da fala, ou melhor,
da comunicação, tal como defende, pois acredita que a comunicação é muito mais. É não
só ajudar na recuperação de uma fala fluida e que todos possam perceber, mas também a
única forma que um ser humano possui em demonstrar as suas sensações e aquilo em que
de facto acredita. Segundo ela, isso deve ser passado da forma mais transparente aos outros,
tal como uma baleia o faz no momento em que chama a sua cria para junto de si, e a alerta
para os vários desafios daquele oceano profundo e azul que rodeia a ilha onde nasceu.
Ela tem um sonho, algo que não diz a ninguém, talvez porque cuida muito bem das palavras
e não as utiliza em vão devido ao seu conhecimento. O seu sonho mais profundo é um
dia conseguir comunicar com a baleia que mergulha todos dias nos seus sonhos mais
intensos.
Acreditem que no dia em que conseguir transmitir o que sente por estes seres divinais de
uma forma articulada e com um som transparente como as águas que rodeiam a sua ilha,
nunca mais irá conseguir regressar a terra firme e por lá irá ficar, naquele oceano profundo
e azul.
Mas não será para já. Agora faz falta em terra para ajudar muitos meninos e meninas,
homens e mulheres, a conseguirem demonstrar por palavras o que lhes vai na alma. Quando
conseguir ajudar a todos, então esse será o seu primeiro dia eterno dentro daquele oceano
profundo e azul. Nunca mais irá voltar, ficando na memória de todos os que ajudou como
uma deusa, e esses serão os profetas desta nova deusa que irá nascer – A deusa da fala. A
mulher que conseguiu colocar nos olhos de uma criança o brilho de um pirilampo quando
comunica com os seus pais da forma mais fluida, como a brisa pela manhã junto do mar. A
deusa que todos os surfistas irão respeitar em dias de vagas azuis como braços demolidores
junto da costa. A deusa da comunicação marinha que fará com que, pela primeira, vez um
ser humano consiga comunicar com uma baleia.
Mas para ser deusa tem de existir um mito, e para existir um mito terá de existir um
pergaminho há muito perdido. Este deve estar selado numa garrafa de cerâmica cosida
pelos fornos de Saturno e que viajou durante muitos e muitos anos pelo oceano e um dia
um pescador da sua ilha a irá encontrar. Quando retirar a garrafa das suas redes, estarão
escritas as treze formas de comunicar com todos os seres marinhos, incluindo o mar. Na sua
assinatura constarão apenas duas letras: um “T” e um “E”, mas será sempre conhecida por
todos os habitantes desse oceano profundo e azul como a “Piripin”.
E nesse mesmo dia, quando o mundo ficar a conhecer este nome, o tal rapazinho que
possuía dificuldades na fala, hoje um simpático velho e lobo do mar, irá sorrir e, com algumas
lágrimas salgadas naquele rosto queimado pelos longos anos expostos ao sol junto do mar,
saberá não só dizer correctamente a palavra, mas também será o único conhecedor do
significado da mesma.

O Poeta.

Como é brutal ter diante de nós uma folha de papel em branco. Como é difícil começar a
escrever e, mais terrível, acabar algo que não sabemos como vai terminar. Que sensações
irão produzir a quem estiver a ler o que escrevemos?
Por isso é que não quis ser escritor. É por isso que sou poeta. Não necessito da folha para
nada, e muito menos do papel. Detesto o branco.
Quando faço um verso apenas tenho a minha boca como instrumento de escrita, e tu serás
a minha folha de papel, de início em branco. Mas, depois de ouvires o que tenho para te
dizer em forma de verso, transformas-te em arco-íris. Ao sentires todas as minhas palavras
carregadas de emoções em forma de verso, falsas ou verdadeiras, pouco importa. Apenas
interessa o que estás a sentir. Podes mentir no que sentes, mas eu saberei a verdade no
momento. Basta para isso olhar nos teus olhos.
É por isso que a vida de um escritor é inglória. Nunca irá sentir, e muito menos ver, o que tu
estás a sentir neste preciso momento.

Um sonho com cor.

Eu hoje vou pintar um quadro. Diferente de todos os outros. Vou desenhar palavras. Estas
têm de possuir a intensidade das tuas cores. No final terá que ficar bem patente o teu rosto
e irão existir apenas três tonalidades:
O Castanho-escuro da tua pele, para dar vida ao teu rosto.
O Azul intenso da tua alma, espelhado num rosto com vida.
O Verde suave, para demonstrar um rosto apaixonado, tal como tu és pela vida.
A tela está quase pronta, mas só irás ver o meu trabalho no dia em que sentires estas
palavras.

O Quadro.

Ela estava diante dele de olhos fechados, como se de um momento de reflexão se tratasse.
As folhas corriam pelo seu rosto. O seu ar descontraído, mas atento, estava presente no seu
rosto. O som da música era intenso, a noite era longa e ambos tinham feito um compromisso:
observarem-se mutuamente. Quem cede? Não importa.
Ele não tirava o seu olhar dos pequenos e perfeitos lábios, mas sempre cerrados como se
de um embrulho se tratasse. Ela não se sentia incomodada, mantinha sempre os olhos
subtilmente fechados com as suas enormes mas perfeitas pestanas negras. As folhas
continuavam no seu rosto.
Ambos aceitaram a condição que lhes foi oferecida. A dele como observador, condicionado
à sua posição de mortal. A dela, mais penosa, de eterna musa criada na tela por tinta a
óleo.

O Pintor.

Aí estava ele com o seu cigarro aceso, a pintar a sua amada. Um rosto inconfundível. Sempre
a sua amada. E, diante dos seus olhos, o quadro que ele pintava em tons de azul de veludo,
cor por ele eleita quando pintava com paixão. Iria ser o último quadro que pintaria antes da
sua morte, mas ele não o sabia.
Pintor, porque pintas com paixão? Porque és louco pelo azul?
Pintor, porquê escolheste esta vida de louco?
Pintor, fica apenas com a tua amada e vive com moderação.
Não, antes morrer do que viver a vida como todos o fazem. Antes ter a loucura como
companheira do que ter a moral dos outros. Meu amor perdoa-me, mas nada consigo fazer
para tirar uma vírgula da minha história. Eu sei que te apaixonaste por mim, mas esquecestete
do pintor, e este é louco, louco pelo azul na tela, louco pelo calor do teu corpo.
Eu sei, eu não quero perceber a vida, eu quero simplesmente que a vida me perceba, mas
como, se eu sou louco?
Estou a morrer, não olhes para este rosto, minha amada. Não foi com ele que te seduzi. Não
deixes que ninguém me veja com este rosto de moribundo. Eu quero que o mundo fique
com a imagem do pintor louco e não do pintor que está a morrer fruto da sua loucura.
Não, não aceito que queiras vir comigo. Este lugar para onde eu vou só me pertence e tu
tens muito que fazer antes de partir para sempre. Não queiras vir comigo, pois não posso
consentir essa desgraça. Que merda este nosso amor. Como pudemos permitir que este
sentimento nos levasse à loucura? Aceita a minha morte e vai-te embora. Não invoques essa
palavra maldita. Foi ela que nos deixou assim e para isso já basta a minha loucura pelo azul
na tela quando te pinto, meu amor. Sem ti não posso quase respirar.
O que é o amor?
Já alguma vez sentiram o amor intenso por alguém?
Um amor intenso que corta como uma faca afiada e sem deixar marca na carne?
O amor que vos levou à condenação eterna?
Eu já senti, e por isso vou agora arder no inferno para sempre.

Lua, a minha amante.

Finalmente estava a sentir as emoções como nunca as tinha sentido sem obter daí uma
justificação para cada uma delas. Era como se tivesse abdicado do seu lado cognitivo e
ficasse apenas com o lado emocional no seu cérebro. Ficou diante da lua naquela noite em
Sagres. Depois de uma hora paralisado para com a sua amante ancestral, aquela que sempre
o iluminou, mas nunca justificou o porquê da sua protecção.
Ele estava a pensar como iria dar a volta a uma vida que até aí estava a ser gerida da forma
mais caótica possível, contudo sem vontade para alterar uma vírgula que fosse naquele livro
escrito por impulsos de solidão e tristeza voluntária. Porém tinha uma certeza, e essa era
a de estar farto de dissecar todas as emoções que ia tendo ao longo do tempo, saber as
razões e origens das mesmas e por vezes até quando as estava a viver. Essa agonia levava-o
a sentir-se desumano, acabando por não sofrer nada por sentir o que quer que fosse, pois
assim que sentia já estava a encontrar razões que o levaram a ficar cada vez mais frio para
consigo próprio e talvez para com os outros que o rodeavam.
Foi ali, observando a lua e o seu amor platónico, e sentindo um frio gélido pelo seu corpo,
que percebeu como era bom sentir algo sem explicação e, não se atrevendo a dissecar no
momento aquela sensação devido ao respeito que tem pela sua lua – pois pensou que esta
iria sentir que ele não estava a ser verdadeiro com ela nas suas emoções – verificou que
também é bom sentir por sentir e sem saber as razões o corpo absorve por completo aquela
adrenalina que não é mais do que angústia e prazer ao mesmo tempo.
Angústia pelo facto de não ter qualquer controlo no que sente. Prazer porque sente o seu
corpo responder às emoções no momento, ficando com arrepios e calor ao mesmo tempo,
de forma uniforme, mas também extremamente localizada em diferentes partes do seu
corpo.
Foi naquele momento, ao observar aquela luz intensa, da sua lua feiticeira, que reconheceu
nada poder fazer pelo seu destino. Muito pouco seria capaz de fazer sem aquela lua e quase
nada caso esta não existisse. Que estupidez de pensamento, disse ele em voz alta. Mas a
realidade é que quase era isso, pois ele não tinha ninguém à sua espera e muito menos com
saudades. Talvez essa era a razão pela qual não se interessava por ninguém.
Mas como é possível uma mulher querer um homem como este? Quando possui uma
amante e esta é a mais ciumenta de todas. É a que mais luz tem para oferecer na escuridão
da solidão, é a que possui mais imaginação nas quentes noites de Verão, é a menos inibida,
tendo sempre o seu corpo descoberto para ele. Sendo também a mais traiçoeira e falsa,
escondendo-se por vezes sem deixar de observar o que ele faz.
Que estupidez de sentimento, quando a lua não é humana. No entanto, ele pouco se
importava, pois nunca deixou de o ouvir desde miúdo.
Este amor é uma retribuição eterna pelo facto de alguém o ter sempre acompanhado nas
suas amarguras e frustrações de adolescente e, quando se tornou homem, aprendeu que
devia ser fiel não aos princípios ou valores que tinha adquirido. Simplesmente a quem
nunca o tinha abandonado. Porém, reconhecia o facto de a sua amante, desde tenra idade,
o exigir só para ela, sendo essa a única condição que qualquer amante faz. Ele, de imediato,
aceitou como qualquer homem faz diante da sua amante.
Nenhuma mulher irá fazer frente à sua lua, lua essa pela qual ele se deixou enfeitiçar. Ela
sempre foi frontal e franca nos seus sentimentos para com ele, mas com um toque romântico
de cinismo nas noites de ausência.
E ele, que sempre dissecou os sentimentos, nunca irá aperceber-se de que o mal não está
nele, mas sim na sua amante, aceitando a sua condição de prisioneiro eterno, esquecendose,
porém, de que é mortal. Irá viver muito pouco ou quase nada, em comparação com a sua
amante, que há muito lá está no seu negro e longínquo altar, e por muito tempo lá irá ficar.

Ser Mulher

Ser Mulher é algo que o Homem nunca saberá ser, muito menos compreender.
Tocar o céu é algo impossível, mas ser mulher também é difícil. Nós, homens, somos seres
imperfeitos, razão pela qual não sabemos ver a beleza interior de uma mulher, muito menos
a exterior.
A mulher gosta de ser tocada, mas antes tem de sentir no toque do homem um sentimento
de paixão. De divindade, talvez de veneração. Ela tem de sentir que aquele homem tem
música no coração e quer, necessita, partilhá-la com ela.
A mulher é um ser extraordinário, o qual não podemos ignorar, muito menos achar que é
fácil a sua conquista. Meus caros, não somos conquistadores, mas sim simples e humildes
prisioneiros do desejo de as possuir. Contudo, quem comanda essa vontade de posse são
elas, as mulheres. Confesso que esse poder de decisão está nas mãos certas, pois se fossem
os homens a tê-lo, muito pior estava este mundo.
Minhas queridas amigas, não estou a fazer um favor nem muito menos a querer ser gracioso,
estou só a expressar o que sinto, e isso é a forma mais frontal de o fazer, dizendo a verdade.
Verdade essa que faz as mulheres sentirem-se culpadas, talvez de terem um poder oculto
que sentem medo de revelar, provavelmente com razão, pois os homens, quando se sentem
ameaçados, partem para a ignorância, tendo como álibi a luta pela sobrevivência. Que
estupidez!
Lamento, apenas, ver ainda hoje mulheres a não fazerem aquilo que realmente gostariam
de fazer, e isso deve-se a uma única razão: medo. Medo de si, medo de descobrirem o que
realmente são e a força que possuem: a mesma que só é expressa no momento do parto e,
ou, na dor. Por aqui podem ter um exemplo de quão frágil é o homem.
Mulher que estás diante de mim, não aceites nada do que eu sou, pois apenas sou um
homem que nada tem para te dar a não ser a minha ideia de herói, mas na hora da dor serei
como que uma pequena cria abandonada quase no leito da morte à procura da sua mãe que
nunca virá, pois já partiu.

A mulher perfeita

Eu ando desenfreadamente há procura da mulher perfeita, mas esta não existe. Apenas e
só muito ocasionalmente surge nos meus sonhos mais profundos, mas quando assim é, ao
aproximar-me dela, a sua intensa luz ofusca-me por completo, deixando uma cegueira por
instantes.
Acordo imediatamente, sem conseguir ficar com a mínima ideia de quão bonita é.
Eu sei que nunca a vou ter, mas isso é porque ela não quer que eu a encontre, só nos meus
sonhos.
Ela também sofre, pois sabe que, ao atravessar a fronteira dos sonhos e entrar na realidade,
eu deixaria de a ver como a mulher perfeita, a minha musa. Passaria a ser mais uma mulher
na minha vida.

Enigma

Sentir, ouvir.
Começar, esforçar.
Se conseguir não vou voltar.
Mas pelo menos tenho de tentar.
Se conhecer não posso contar.
O segredo está em focalizar só e apenas uma única coisa:
Quem eu sou.
Como posso sentir-me melhor?
Como estar atento aos sinais? O que dizem eles?
O que quero eu fazer até ao fim?
Como ficar imortal?
A resolução deste enigma é a metamorfose para a imortalidade.

O MEU EU


Muitos dizem que o meu “ego” é demasiado alto. Até pode ser assim, mas
temos que gostar de nós primeiro para que os outros nos admirem. Essa é uma premissa que
não deixo para os outros.Talvez o melhor é explicar como o faço, o que, na minha opinião,
é extremamente simples. Para começar não possuo qualquer religião ou partido político.
Depois, não participo nas opiniões de massa, ou melhor, aquilo a que hoje chamamos de
opinião pública. Também não tenho opinião sobre tudo. Odeio tratar as coisas pela rama,
gosto de aprofundar os temas quando sinto que são essenciais para o meu conhecimento.
Excesso de informação sem ter tempo para gerar conhecimento, não, por favor.
Contudo, o mais importante da vida são os sinais da natureza, isto é, não me limito a respirar
o ar deste planeta. Quero e sigo os seus sinais em sintonia com os seus quatro elementos.
Para isso é necessário absorver a energia que a mãe natureza nos proporciona todos os dias,
desde que estejamos atentos. Esta dá-nos imensos sinais, todos os dias, sem excepção.
Qualquer um de nós, no centro de uma praia deserta, num dia de Inverno, se estiver virado
para o mar e sentir o vento a entrar pelos pulmões, fazendo toda a força para que essa
quantidade de ar seja a maior possível e, repetindo este gesto amiúde, quando abrir os
olhos, vai sentir uma energia oferecida a custo zero por alguns elementos da natureza.
Este é o meu eu, um vagabundo em busca de sinais, mas também um nómada há procura
de sensações perfeitas. O meu eu apenas aprecia três coisas na vida:
As mulheres.
A energia deste planeta.
O comportamento social deste animal que somos todos nós.

Excertos do 1º livro: "Espelho meu, diz-me quem sou."

Contos, devaneios e histórias, com e de mulheres, sem um fim.
Obriga o leitor a chegar às suas próprias conclusões, utilizando para isso as suas crenças,
preconceitos e experiências de vida.
Este livro liga o autor ao leitor e convida-o a aventurar-se numa jornada, na qual se
encontra a curiosidade do ser humano, mas também a existência do ser social que
todos somos.
É de facto uma viagem ao mais íntimo e recôndito “eu”. Sim, esse eu existe e está dentro de
qualquer um de nós.
Semear uma relação para colher uma amizade.
É o que faço todos dias com o meu “eu”.